terça-feira, 1 de março de 2011

Que maravilha...

I

Que maravilha que é poder sofrer mansamente num canto quieto,
Que maravilha que é padecer calmamente sem dar explicações a ninguém,
Padecer sem consolos e sem esperanças...
Ah, que maravilha que é estar a sós com a dor que levemente nos punge
E desfrutarmos dela sem a banalidade dos deveres,
Sem a mesquinhez das coisas sociais...
Que maravilha que é sofrer despreocupadamente no silêncio de todas nossas galáxias vazias do peito,
A ouvir apenas o barulho do nosso coração sussurando gemidos ao pulsar.

II

Pesa nessas horas preencher essas horas.
Tudo torna-se despropositado e de um esforço inútil e multiplicado a cem, a mil,
Como se a própria força da gravidade tivesse se multiplicado.
Até ao coração é um fardo bater, um esforço degradante.

III

Que maravilha?
Tudo passa lento e arrastado,
Inclusive a volúpia da dor leve,
Que já passa e vai embora.
Não é cansaço, não é desânimo,
É coisa para além disso.
Ah, alma minha, nem deitar é suficiente,
Tu queres, ao nada querer,
Um estado de repouso abstrato que não existe,
E assim tu flutuas no desconforto da insatisfação de uma não-vontade.

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